As cartas de amor já não têm mais os nossos abraços
No precipício abençoado de éter infinito
Uma tarde feita de rosa e de azul místico
Como um longo soluço carregado de adeus
A ausência
O rosto opaco, pálido
Movimentos corporais assimétricos
No quebrar das ondas
O mar não tem mais voz
Levanta uma madeira à deriva
& afunda
Nenhuma palavra de morte na manhã reluzente
E ficam aqui os de chorar
Nada mais foi dito
Um transe entre a Moldávia e o Danúbio
O corpo do gesto
O refúgio do mar nos ensinou o que é o amor
Os nossos corpos perdidos noutro planeta
O constrangimento dos teus abraços
Tua vista penejando na névoa
Os labirintos
Fico na margem e vejo
mergulhar e revirar
São os piores dias
Esta luz, o fogo que me devora
A dor é só uma ideia
Paisagens íngremes me rodeiam
& sucumbes
A cada abraço
A cada gesto impuro
Perco mais uma vez o mundo
De A ressaca do mar trincou meus ossos (Loitxa Lab, 2021)
Jean Albuquerque
Sérgio Milhano, PontoZurca