A poesia faz frente ao dia
Este poderia ser um Poemundo sobre o tempo. Sobre a velhice. Sobre a guerra. Sobre a pandemia. Mas ao movimento-tentação dos jornalistas, sempre à procura de leituras do mundo, Maria Filomena Molder estende um espelho crítico, para que nos vejamos neste reflexo das palavras: “em filosofia, para falar sobre o que quer que seja, é preciso dar um passo atrás”. A frase continua, enquanto ficamos presos ao ponto final que nos derruba como a urgência de uma pausa eternamente adiada.
“Há grandes semeadores do medo, cada vez mais. E de medo e de angústia já estamos bem cheios.” Os dedos procuram a metamorfose interna de Vitorino Nemésio, virando páginas. Do programa de televisão “Se bem me lembro”, na RTP, às aulas na Faculdade de Letras, passando pelo poema de cujo final se tinha esquecido e ainda folheando o “Limite de Idade”, livro escolhido por todas as razões e mais alguma. O programa é gravado antes de 24 de fevereiro de 2022. “Temo que haja imenso exercício de petrificação dos nossos espíritos em relação à guerra”. Olho para baixo, para tomar nota desta frase, e reparo que tenho os dedos como marcadores na página 56 do “Limite de Idade”. Leio em silêncio: “A Poesia é um louco laboratório, / E eu dispo a bata para não chorar.”
Isabel Meira
21.03.2022
Isabel Meira
Isabel Meira
Sérgio Milhano, PontoZurca
Antena 2
RTP