Farsa de Inês Pereira

Porquanto duvidavam certos homens de bom saber se Gil Vicente (1465 – 1536) fazia de si mesmo as suas obras ou se furtava de outros, lhe deram como mote sobre que escrevesse o provérbio que diz: “mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube”. Assim nasceu a Farsa de Inês Pereira, representada ao mui alto e mui poderoso rei D. João, o terceiro do nome em Portugal, no seu Convento de Tomar, no ano do Senhor de MDXXIII.

 

Com a adaptação realizada por Eduardo Street para o programa “Teatro Imaginário” da Antena 2 (2002), nas interpretações de Teresa Sobral, Fernanda Montemor, Vera Azevedo, Rui Luís, Jorge de Sousa Costa e Carlos Vieira Almeida, celebramos hoje o Dia Mundial do Teatro.

 

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Os corpos escravizados continuam escravizados

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O luto toma conta das palavras, mesmo que nunca seja pronunciado: “a gente não vai conseguir curar todas as feridas da terra”, constata o líder indígena Ailton Krenak. Pensar sobre o antropoceno, a era geológica marcada pelo impacto do homem, é pensar sobre o colonialismo. Os corpos escravizados, os bastardos, as independências subalternas da América Latina – cabe tudo no retrato de um país que se prepara para uma nova ida às urnas. Mas, para Ailton Krenak, a ideia de democracia surge entre aspas, condicionada pela lógica da “política predatória”, que “actua para produzir fome e miséria no mundo”.

Natural de uma aldeia na região do Vale do rio Doce, no Estado de Minas Gerais, protagonizou um dos momentos mais marcantes na luta pelos direitos dos povos indígenas: durante um discurso no plenário do Congresso Nacional, em 1987, pintou o rosto de preto com pasta de jenipapo, tal como a tribo Krenak faz em situações de luto. O gesto simbólico de protesto e o trabalho de várias lideranças resultaram numa conquista inédita – a inclusão de um capítulo sobre a protecção dos direitos dos povos indígenas na Constituição brasileira de 1988. Ailton Krenak é fundador de várias organizações como a União das Nações Indígenas ou a Aliança dos Povos da Floresta, mas qualquer tentativa de o sentar no lugar de porta-voz esbarra na singularidade incómoda do seu pensamento. Como a ideia de viver, assim: “você poder chegar em algum lugar do país e poder dizer, ah, ali aquelas pessoas só estão vivendo”.

Distinguido com vários prémios e condecorações, autor de livros como “Ideias para Adiar o Fim do Mundo” (2019) ou “A vida não é útil” (2020), observa o que se passa no Brasil e no mundo, com a ameaça crescente de uma guerra nuclear. O luto, uma vez mais, enraizado e premonitório, na pasta de jenipapo de Krenak, na cadência de um planeta enfermo.

 

 

 

 

Isabel Meira

data de publicação
14.10.2022
autoria, edição e montagem
Isabel Meira
masterização
Sérgio Milhano, PontoZurca
créditos
"O Canto das Montanhas", Krenak Maxakali Pataxó, Festival de Dança e Cultura Indígena da Serra do Cipó, Minas Gerais, Brasil (2007);

Ailton Krenak, excerto do discurso proferido na Assembleia Nacional Constituinte, Brasília, Brasil, 04/09/1987;

Ailton Krenak, excerto do documentário "Ailton Krenak: O Sonho da Pedra", de Marco Altberg (2017);

Carlos Drummond de Andrade, declama "O homem; as viagens", do livro "As impurezas do branco" (1973)

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