no fundo no fundo
corroído pelo sal
teu rosto
oscila e naufraga mas
o que a gente não sabia
era isso do mar
isso da pressão e da irritante
certeza e não clareza das coisas
engolidas pelo mar
e num belo dia um dia
de comprar flores e moluscos
passando pela bancada das
hortênsias a expansão das amídalas
um fio de voz que pede ajuda
agulhadas na cérvix a filha do
florista espantada e atenda ao divertimento
aflição e arrependimento sem razão
debaixo das unhas um sopro doentio
gelado direto na boca do estômago
como um soco de ressurreição voltar
voltar a respirar o apito de um
cargueiro longe o suficiente
meu deus
o mar!
como quem se lembra do
leite no fogo
15.11.2022
Carla Diacov
Sérgio Milhano, PontoZurca