A pobreza
Papai nos céus
Você que morreu
Pelos meus pecados.
Sou uma velha sem fígado
O cigarro queimou meu cérebro
Meu tudo está desligado
Eu cresci e multipliquei no bairro.
Zé o maior com a idade núbil
Tornando uma utilidade vil
Vive até agora com sua madrinha
Pedro mudou para o Rio de Janeiro para nadar
E sua vida acabou em nada
Por balas perdidas da polícia nas favelas.
Marco, Lúcia e Jacó exorcizam o demônio
Com a fumaça de maconha no bairro.
Papai nos céus
Alegria entra e sai de mim
Como o sabor de açaí
O suor da noite da cité cai
Sobre meu colchão
E minha calcinha não pode secar o chão
Meu amor é míope
E a vida nunca me sorri
Papai nos céus
Minha casa é como a Prisão de Guantánamo
Onde as torturas do dia me amortalham
Ouça as minhas palavras que te atrapalham
No teu paraíso dos falecidos
Amém!
Rei Seely
Sérgio Milhano, POntoZurca