Adormeceu encarcerada
Adormeceu encarcerada
entre o céu e a terra, face
rubicunda da corrida, pés
em chaga como a testa
de Cristo sacrificado
na árvore humana. As rolas
embalaram-na
em pedidos de desculpa,
penitências bucólicas
cantadas do peito
e para a língua, da língua
para as coxas e além. Água
teimosa soergueu-se
dos regatos, aplaudindo
o voo das abelhas e a métrica
do desejo. O musgo
cobriu-a em marés de ansiedade,
nomeou-a víscera na toponímia
secreta do bosque e acolheu-a
no murmúrio entre as estações.
Debateu-se
no leito com o bocejo
dos recém-nascidos e
acordou do sonho
trazendo o lume na mão.
de A norte do calendário (2022, Medula)
02.06.2022
Oriana Alves
Sérgio Milhano, Pedro Baptista
PontoZurca