Francisco Mallmann [compacto]
Os poemas aqui reunidos revelam, de algum modo, a noção de coletividade – algo que marca imensamente meu modo de criação, independente dos contextos de feitura. Há um desejo de criar e produzir em coletivo que não se esvai. Processos que se dão em reunião, em ajuntamento. Mesmo minhas escritas mais solitárias, são largamente atravessadas pelos coletivos que integro – e por ideias de comunidades menos ou mais transitórias. Interessa aqui: o trânsito, a transição, a transformação de uma coisa em outra em outra em outra.
Algumas coisas tem sido importantes no que tenho pensado sobre poesia: o espanto com a língua, o susto de ser alguém marcado via diferença compulsória, a tentativa de emancipação via linguagem, a criação em coletivo, o amor desviante, o sul do mundo como espaço de articulação, a radicalidade circunscrita na não-assimilação, o fim do mundo como nos foi apresentado, o desfazimento de uma métrica normativa e compulsória para as existências, relações e desejos, a irmandade com o impossível, as muitas noções de revolução, os trânsitos entre o visível e o invisível, as práticas e existências incapturáveis, e a irreconciliação.
Fazer política excede os campos delimitados. Criar narrativas, documentar, imaginar nossas vidas para além de uma violência imensurável, me parece, se torna ato subversivo, vital e incontornável. Lutar lançando corpo, energia e trabalho em uma noção de “memória” que excede formas e formatos. Eu acredito que a poesia pode ser um espaço para se exercer a tarefa de pensar o mundo de outra maneira. Eu acredito que ela pode ser o exercício radical para a mudança no modo como abordamos matéria e forma – fazendo com que categorizações essencialistas deixem de ditar eticamente a vida e a humanidade.
Francisco Mallmann
15.08.2022
Francisco Mallmann
Sérgio Milhano, PontoZurca