Golgona Anghel [compacto]
Os sete poemas escolhidos para leitura foram retirados de três livros: Vim porque me pagavam (2011, Mariposa Azual), Como uma flor de plástico na montra de um talho (2013, Assírio & Alvim) e Nadar na piscina dos pequenos (2017, Assírio & Alvim).
A escolha é aleatória, assim como é anárquica a força da imaginação que os provocou. Digo provocação, porque talvez seja isso que o poema procura: uma voz em jacto, com toda a elevação e a fatalidade da queda que isto implica. Quanto subiu, se subiu?
Subiu dez andares para assim nos poder olhar de frente. O que confessa? Uma memória inventada: diz que gostava dos chocolates Toblerone que a tia trazia no Natal. Com que propósito? O de um colecionador de ocasião que vai juntando cabelos nas folhas de um herbário sentimental. Escreve a palavra vazio depois da palavra espera. É como a Salomé — dizem — pede cabeças mas só lhe entregam pizzas. Perdeu a fé num ataque de riso. Exige agora silêncio e um copo de tinto, enquanto apresenta em directo a autópsia da sua glória.
Golgona Anghel
06.03.2022
Oriana Alves
PontoZurca