De tarde
Naquele «pic-nic» de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Cesário Verde
In O livro de Cesário Verde (Assírio & Alvim, 2004, p. 89)
01.10.2022
Cesário Verde
Manuela de Freitas e Mário Viegas
José Mário Branco
António José Martins
José Fortes (Angel Studios, Outubro de 1990)
UPAV - União Portuguesa de Artistas de Variedades, em 1990 (vinil); Público, em 2006 (CD); poesia.fm, 2022 (versão digital)
Manuela de Freitas, Hélia Viegas, Ana Viegas Cruz, Filipe Esménio, Pedro Branco, Manuela Jorge, Paulo Ferreira e Margarida Ourique