uma foto
alguma coisa sobrou dentro disso tudo
alguma diferença fez
não lembro se era uma foto ou uma verdade explicativa sobre o mundo, mas
lembro que eu tinha gostado de verdade aquele dia
aquele dia, ou outro equivalente
algo que deixei pra olhar melhor num dia diferente
que fazia todo o sentido mas eu tinha outras coisas pra terminar antes
que tinha tudo a ver com as outras coisas, mas não exatamente
que eu pensei em anotar mas depois pensei anotar pra quê, rafael
anotar onde
pra depois fazer o quê com isso
ah se um dia eu fosse de verdade um estudioso
e tivesse a pachorra de entender o mundo sem autopreservação nenhuma
se eu fosse um cantor imenso e o meu tema fossem os revelamentos dentro disso tudo
todas as coisas que eu já sonhei saber que existiam
ou uma única coisa, mas seria equivalente
uma foto cristalina, de um lugar possível de ir
de um homem que existia e era bonito de um jeito que eu não achava mais possível
que já vivia de verdade no outro mundo
um homem que eu confundi com um livro que esqueci que tinha lido
ou que não li, mas alguém tinha me dito que gostou
mas gostar serve mesmo pra quê, exatamente
ora pra alguma coisa com certeza serve
no mínimo é diferente de coisa nenhuma
no mínimo é aquela história de se fui eu que sonhei que era uma borboleta ou
se foi a borboleta que sonhou que era eu, etc
uma antiga verdade chinesa, ou algo mais preciso que isso
quando eu precisar eu googlo.
De revista Ouriço (2022)
21.07.2022
Oriana Alves
Pedro Baptista, PontoZurca