Ainda sonho que nos tocamos
rente ao penhasco dos ombros e postos
entre o pasto dos cabelos
dedos meus pairam como libélulas sobre
lóbulos
mamilos
a maxila
sem tocar
e tocando
garças em ti levantam no folhedo
das pestanas
os minutos alastram campo aberto
a cortina azula nos desvãos
da madrugada
uma buzina estronda ao fundo da aurora
enxota a barbatana do sono que arava à tona
um fio de luz vaza pelo rasgão da memória
escuto
qualquer coisa neste silêncio
te soletra
in Ágil mesmo nu: um sobretudo nos trópicos (edições Macondo, 2021)
13.11.2022
Nuno Morão
Sérgio Milhano, PontoZurca