vou deixar de falar de ti
vou deixar que o sabor do teu nome se dissipe
silabar sequer a tua ausência
vou morder até ao osso o teu vazio
calar-me deixar de te dizer
e vou
sulcar fundo desvio na lama
do meu peito
pisarás em mim outros baldios mas longe
já do coração
vou depois incendiar a tua imagem
extinguir a labareda vassourar com rigor
a tua cinza
e vou betumar o que era comarca tua
na memória
vou deixar de falar de ti
vou deixar de falar
in Ágil mesmo nu: um sobretudo nos trópicos (edições Macondo, 2021)
08.11.2022
Nuno Morão
Sérgio Milhano, PontoZurca