Tudo começa com o peso
com que tudo começa
o chão cogita os seus minérios e raízes
um eco pedregulha no silêncio
pendurado nas alturas
no fio desatado deste instante
a tarde inclina tantos graus
oura ao sopro brando
toca de leve a tontura
e à tortura dá abaulo rente e raso
o peso que ao livre-arbítrio desconvém
movem-se as massas de ar
as furnas encerram cada fenda cada furo
tudo tomba por dentro zunindo
de vertical vertigem atingido
porque é no próprio saltar que se pousa
porque é no próprio pouso que se cai
mas de que outra coisa falaria este poema
se não da mais pálida ideia que não faço
in Ágil mesmo nu: um sobretudo nos trópicos (edições Macondo, 2021)
07.11.2022
Nuno Morão
PontoZurca