O projeccionista
Ouvi contar que durante a primeira grande guerra
ex-combatentes sem rosto se escondiam
atrás da bobine como projeccionistas
durante a idade de ouro do mudo.
Como bustos romanos, sem narizes,
rinocerontes mutilados, entricheirando-se
nas sombras realistas no outro lado da lanterna
mágica, quasímodos de sétima arte,
a besta de onde a bela luz
de Griffith, Gance e Sjöström
brotava para banhar os seus corpos
atléticos, esbeltos, imensuráveis.
Assim, jorrava a luz como água cristalina,
arte disparada de negra gárgula!
Assim, Europa, ilusória tela, tu,
das valas de quantos narizes te não projectas!
De Cães de chuva (2021, Assírio & Alvim)
15.04.2022
Oriana Alves
Sérgio Milhano, PontoZurca
E-learning Café Botânico e Teatro Carlos Alberto