Farsa de Inês Pereira

Porquanto duvidavam certos homens de bom saber se Gil Vicente (1465 – 1536) fazia de si mesmo as suas obras ou se furtava de outros, lhe deram como mote sobre que escrevesse o provérbio que diz: “mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube”. Assim nasceu a Farsa de Inês Pereira, representada ao mui alto e mui poderoso rei D. João, o terceiro do nome em Portugal, no seu Convento de Tomar, no ano do Senhor de MDXXIII.

 

Com a adaptação realizada por Eduardo Street para o programa “Teatro Imaginário” da Antena 2 (2002), nas interpretações de Teresa Sobral, Fernanda Montemor, Vera Azevedo, Rui Luís, Jorge de Sousa Costa e Carlos Vieira Almeida, celebramos hoje o Dia Mundial do Teatro.

 

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[Era o Inverno de 69]

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Era o Inverno de 69.

Havia notícias como há sempre,

e suponho que fizesse frio.

 

A parentela acorria,

acotovelava-se ao redor da cama,

fingia estar feliz, ou talvez estivesse,

sabe Deus porquê. (Ao mesmo tempo,

abrigava-se da chuva.)

 

Nunca fui tão pequeno, nem tão pouco

parvo. A partir de então, industriaram-me

nas artes e ciências de estar vivo,

excepto a respiração, que é oferecida:

 

comer, roubar, fugir,

ser intramuros e existir na gleba,

e desistir

silenciosamente.

 

Sim. Foi, para mim, o Inverno dos Invernos.

 

E não há meio de acabar.

 

 

 

 

 

De A metafísica das t-shirts brancas (2012, 50kg)

 

 

data de publicação
23.05.2022
GRAVAÇÃO E EDIÇÃO ÁUDIO
Oriana Alves
masterização
Sérgio Milhano, PontoZurca