[Era o Inverno de 69]
Era o Inverno de 69.
Havia notícias como há sempre,
e suponho que fizesse frio.
A parentela acorria,
acotovelava-se ao redor da cama,
fingia estar feliz, ou talvez estivesse,
sabe Deus porquê. (Ao mesmo tempo,
abrigava-se da chuva.)
Nunca fui tão pequeno, nem tão pouco
parvo. A partir de então, industriaram-me
nas artes e ciências de estar vivo,
excepto a respiração, que é oferecida:
comer, roubar, fugir,
ser intramuros e existir na gleba,
e desistir
silenciosamente.
Sim. Foi, para mim, o Inverno dos Invernos.
E não há meio de acabar.
De A metafísica das t-shirts brancas (2012, 50kg)
23.05.2022
Oriana Alves
Sérgio Milhano, PontoZurca