Escavo as trevas à força de faróis:
aponto à estrada florestal
esses dois minúsculos sóis
com que inauguro galerias provisórias,
claustros, arcadas, naves arbóreas,
e de halos breves conjuro cancelas,
muros velhos, veredas, levadas.
O seu clarão torna visível o invisível,
traz as coisas para a existência:
marcos quilométricos, apeadeiros,
serrações assombradas,
pilares de pesadelo que suspendem sobre os vales
absurdos viadutos aéreos.
Com faróis ilumino porque não tenho luz própria:
cego viajo, como a traça,
às voltas, às voltas,
tão negro como a noite que lá fora me cerca,
peixe dos abismos, toupeira,
cometa.
De Estrada Nacional (2016, IN-CM)
25.04.2022
Oriana Alves
Sérgio Milhano, PontoZurca