Fotometria de Maria Miguel
Light = Confusion
Coleridge
No princípio eras o tule branco que cegava,
de rivais meridianos e faunos
sempre rodeada,
bronzes puros no disco do Sol.
Eu amava a tua natureza ondulatória
no extremo azul da secundária.
Armava a película com cristais de prata
para arrestar a tua aparição
na vila transmontana,
cunhar no trigo a tua moeda
ou nalgum bosque humedecido
gravar o teu friso de água.
Agora procuro em ti a sombra dos vales
e agasalho no teu manto púrpura.
Nenhuma ruga pode turvar os teus retratos.
Envelhece apenas a moldura.
Agora a tua luz não é só tua,
serve de fundo à da menina,
pequena lente que te aumenta
e obscurece. O teu fulgor é indirecto
e o meu amor um erro de paralaxe.
Agora a tua aparição é um eclipse,
um advento que recua,
luz diferida no prisma
do meu coração.
Arco-íris em câmara escura.
De Firmamento (Assírio&Alvim, 2022)
01.05.2022
Oriana Alves
Sérgio Milhano, PontoZurca