As coisas que andam perdidas
As
coisas que andam perdidas escaparam
à nossa alçada (por meia hora
um par de dias
a vida inteira). Parecem ter vida própria (as
coisas
desaparecidas) não
aceitaram o excesso que lhes vínhamos a dar –
como os amigos perdidos que fogem à
nossa alçada (por meia hora
um par de dias
a vida inteira). As coisas que achamos no chão
são coisas
perdidas por outros –
o próprio tempo se ocupa de delir sua passagem
(as pegadas à entrada
os dedos no tampo da mesa
o amor a secar
nos lençóis). Os amigos que andam perdidos
deviam voltar de vez
como esses galhos partidos que se atiram a um cão
não como um seixo de praia que se lança
e fica lá.
João Luis Barreto Guimarães
in Nómada (2018, Quetzal)
20.02.2022
Oriana Alves
PontoZurca