Maçãs selvagens
Mais do que o primeiro verso inquieta-me
o seguinte: o
segundo quem o dá? Escolho o
mundo
com as pálpebras (abrindo e fechando os olhos)
escolher é excluir
excluir é entender
entender é conservar. Cada poema escrito é
uma oportunidade
como alguém em quem se toca e sem
que se conte dá choque
(uma espinha na garganta) a
unha num
quadro de ardósia. Fazer poemas é como ir
roubar
maçãs selvagens –
vais à espera de doçura mas
surpreende-te a acidez. Dentro do poema:
sons
(em redor: espaço branco)
silêncio a trabalhar.
João Luis Barreto Guimarães
in Nómada (2018, Quetzal)
25.02.2022
Oriana Alves
PontoZurca