[Às crianças gémeas de um livro]
Às crianças gémeas de um livro,
Meu deus livra-nos dos dias estúpidos
e enquanto não livres
deles me vingo e crio
um trilho de larva que lavra
o papel com a mecânica
quântica da maçã
sobre a qual se desfaz a escritura
onde me desvinculo do paraíso
e entro pela boca da noite
fosse ela uma loba
ou os lobos do teu cérebro
nele me alojo entre as tetas
por dentro da seiva
que alimentarão dois irmãos
não os já conhecidos
mas aqueles que colherão as palavras
da árvore dos sonhos
e delas provarão sem medo
distribuindo-as aos outros animais
com a tremura inicial
de quem se olha atravessando
os músculos e os tendões da alegria
nesta fábula serão eles que falam
as dores d’alma sentidas nos dentes
e a poesia com a paixão da descrença
e a fúria da contradição
será o crime dos dias
selado a diversos fluídos
que correrão por entre pedras parideiras.
Quem disse que as pedras não têm feridos?
Inédito
04.07.2022
Oriana Alves
Pedro Baptista, PontoZurca