Corpo Pendular
Sobre o final da tarde
E o início da noite há uma ponte
Que o teu corpo atravessa
Como animal lento e pouco bíblico
Espreitando o domínio das casas acesas
Onde um sofá vermelho repousa
Ao lado de vagas mulheres
E esquecidas crianças
Depois o das outras
De persianas corridas
Como pálpebras desligadas
Em ruína esplendorosa
Contrastando com as muitas luzes
O reclamo de uma loja tardia
Devolve-te a noite que tomas inteira
Como uma cápsula
Que te arrumasse por dentro
Também tu como uma casa
Nem perigosa ou inquietante
Simplesmente frágil
O teu corpo recolhendo-se
Como do estendal a roupa já fria
Inédito
05.07.2022
Oriana Alves
Pedro Baptista, PontoZurca