Pala, Ribadouro
Atravessava a noite suspenso de nada
Rolo fotográfico revelando-se
Na noite quente um comboio passava
Animal lento fora d´horário
O ladrar de um cão cruzando as horas
Da cercaneira torre o comboio passava
Abandonando a noite a um quedo silêncio
Interrompido pela queda de um antiquíssimo fruto
Que soava como novelo imperfeito
Enquanto o comboio atrasado e lento
É ainda pasto dos meus olhos
E a minha voz acantonada
Na forte floração d’hidrângeas
Recusa levantar-se
Para o conserto do mundo
Que aqui fique lavrado
Que hoje não morrerei por nenhuma ideia
Apreciarei apenas aquele comboio e o seu destempo
Inédito
10.07.2022
Oriana Alves
Pedro Baptista, PontoZurca