Não entendas mal, não me dês vulgares
sentimentos a que me sei alheia.
Não é a ti que invejo, é a ideia,
a lembrança, a experiência, os lugares.
Sabe que simpatizo com o que ousas
e terei medo, alguma cobardia—
até por isso não te roubaria.
Ser tu era ciúme, eu, orgulhosa,
não irei ocupar-te, é por metáfora
que me comovo e tanto do que vivo
é material de imagens que recolho.
Amo-te e do que amas não sou ávida:
teu júbilo é meu espírito efusivo,
a falta que te dói sol no meu olho.
Margarida Vale de Gato
de Atirar para o torto (2021, Tinta da China)
23.03.2022
Oriana Alves
PontoZurca